domingo, 24 de abril de 2011

Compreendendo a paixão

Será vida religiosa castigar-mo-nos a nós mesmos? Será a mortificação do corpo ou da mente um sinal de entendimento? Será a auto-tortura um caminho para a realidade? É a castidade uma negação? Pensas que podes ir longe através da renunciação? Pensas realmente que pode haver paz através do conflito? Não serão infinitamente mais importantes os meios que os fins? O fim pode vir a ser, mas o meio é. A actualidade, o que é, tem que ser entendida e não disfarçada por determinações, ideáis ou brilhantes racionalizações. O sofrimento não é o caminho para a felicidade. Aquilo que chamamos paixão tem que ser entendida e não suprimida ou sublimada, e não serve de nada encontrar uma substituição. O que quer que possas fazer, qualquer engenho que inventes, apenas dará mais força a isso que não amas-te nem compreendeste. Amar o que chamamos de paixão é compreender essa mesma paixão. Amar é estar em comunhão directa; e tu não podes amar alguma coisa se te ressentes dela, se tens ideias, conclusões acerca dela.Como poderás amar e compreender a paixão se fazes votos contra ela? Um voto é uma forma de resistência, e aquilo a que resistes no fim acaba por te conquistar. A verdade não é para ser conquistada; não podes atacá-la; escapar-se-á das tuas mãos se tentas agarrá-la. A verdade vem silênciosamente, sem tu saberes. Tudo o que sabes não é a verdade, é apenas uma ideia, um símbolo. A sombra não é a realidade.

J. Krishnamurti in The book of life

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